Depois de ler o texto do Gil Vieira sobra as esculturas de Egon Pacheco na Gotaz #3 lembrei de uma postagem que não fiz, acredito que seja um bom momento de falar desse trabalho do artista santareno. “Ressignificações Tridimensionais de Símbolos do Sairé – Esculturas Efêmeras na Vila de Alter do Chã”, projeto contemplado com a Bolsa de Pesquisa do IAP, foi realizado na Vila Balneária de Alter do Chão distrito da cidade de Santarém-PA. Uma série de intervenções que une as pontas do folclore com a arte contemporânea.
Sobre as intervenções:
2- “Florõespíritos” (obra do terreno cheio de destroços)
Obra que também aborda o tema da morte, dessa vez a morte da cultura. Nove esculturas de tecido colorido “ornamentam” um cenário desolador onde se encontram os escombros do antigo Museu do Índio de Alter do Chão. O desafio desta obra foi dissertar sobre a tristeza através da alegria, para tanto, o artista inseriu na estrutura esvoaçante de cada escultura laços de fita de cetim preto que além de promoverem uma quebra do ritmo colorido das obras, trazem o sentido do pesar e do luto. Não se trata de protesto e sim de uma lamentação advinda da tentativa de insuflar cores e vida ao que já não mais vive.
3 – “Árvore da Vida” (escultura no terreno descampado)
Os mastros do Sairé são ornados com muitas frutas e bebidas a fim de renderem graças pela fartura da natureza, esta obra aponta exatamente o oposto, aqui o sentido de escassez é reforçado pelo círculo de carvão. O conflito homem versus natureza torna-se ainda mais dramático pela sonorização emitida pelo corpo escultórico, ela confere o sentido geral de sua visualidade. Sons de pássaros cantando e silenciados pelo fogo crepitando no mato, motosserras inflamadas aterrorizando os ares nos fazendo pensar que em algum lugar próximo está havendo derrubada de madeira, orações e cânticos, além da ladainha do Sairé em 23 minutos ininterruptos dão a entender que “A natureza reza, reza, reza…” .
4 – Lanças (obra da frente da igreja)
Em tempos remotos a igreja de Nossa Senhora da Saúde foi irradiadora do Sairé. A festa tinha como objetivo cristianizar o povo indígena da vila o que conferiu seu sentido prioritariamente religioso, mas esse processo não foi de todo pacífico. A presença de nove lanças de madeira com 2,5 metros de altura conferem poder e uma atmosfera de fortaleza e ao imponente templo de arquitetura portuguesa do final do século XIX, marco do domínio católico sobre as práticas culturais do povo borari ao longo de três séculos.
(Fotos e textos do artista)
